Thursday, September 25, 2014

ALON ARANYA AND NYFA


PORT • Nem bem cheguei na NYFA e já corri para participar de um evento super bacana, a exibição do piloto da série “Hostages”, que agora segue em sua segunda temporada, com uma sessão de perguntas e respostas com o próprio produtor da série, Alon Aranya. Aranya é um dos garotos prodígios da atualidade na produção de séries televisivas com impressionantes 22 projetos aprovados pelas mais diferentes redes, entre elas: FOX, ABC, Universal-NBC, CBS, Starz, TNT e Lifetime. A participação dele em Hostages não se limita apenas à produção, ele atuou fundamentalmente na elaboração e adaptação do roteiro, que originalmente foi idealizado para a TV de Israel.
O episódio inicial, com 44 minutos de duração (sem intervalos comerciais) surpreende pela riqueza de detalhes na trama e pela maneira como consegue manter o controle entre o suspense e a adrenalina o tempo todo. Por se tratar de uma série televisiva, é notável a quantidade de detalhes e o constante nível de tensão obtido, obviamente com o intuito de conquistar o espectador a cada minuto e não deixá-lo passar perto do controle remoto
Após a exibição, Alon se mostrou uma pessoa extremamente acessível e de uma simplicidade e sinceridade impressionantes. Foram mais de 60 minutos entre questionamentos das mais diversas naturezas. Os pontos mais abordados foram o processo de identificação de ideias e criação de roteiros para séries televisivas e o processo de pitching nos dias de hoje. No contexto geral o que mais me chamou atenção nas explanações de Aranya foi o seguinte:

• Estão faltando roteiristas – sim, é absurdo, mas é verdade, estamos no coração da indústria cinematográfica e o mercado aqui está carente de roteiristas (bons, diga-se). Alon destacou a carência de roteiristas no mercado de séries televisivas, tanto que as redes estão comprando quase qualquer coisa, ainda que isso depois traga arrependimentos. Por este mesmo motivo, Aranya tem buscado ideias e possibilidades de fora, como é o caso do próprio “Hostages” de Israel ou ainda “Betrayal” e “Red Widow”, ambas da Holanda.

• Os roteiros para séries televisivas atingiram um nível altíssimo, demandando uma carga dramática muito intensa. Aranya comentou que muitos roteiros que chegam para ele como proposta de série deveriam ser produzidos como longa metragem pois no formato televisivo mal dariam conta de 5 minutos em um episódio. Produzir uma série por aqui é um trabalho exaustivo (e gratificante), pois a necessidade de manter o ritmo da narrativa em alta exige um trabalho criativo intenso e, para garantir diversidade nesse processo as redes têm “sugerido” roteiristas externos aos projetos para participar dos mesmos. Em outras palavras, se a coisa não anda como a rede acha que devia, cabeças externas são chamadas para participar do processo criativo e o autor que quiser ver sua série chegar ao final, geralmente acata.

• O pitching por aqui ocorre em duas etapas. Na primeira o produtor sai à caça de boas idéias, sejam elas roteiros, séries já executadas em outros países ou apenas sinopses. Nesta etapa, são os roteiristas que tem que fazer o pitching defendendo suas propostas para o produtor. Caso o produtor compre a ideia, ele geralmente vai entrar como co-roteirista do material e ajudar a lapidá-lo até achar que está no ponto de ser apresentado as redes e estúdios de TV, cabo, etc num segundo pitching.

• O grande problema dos roteiristas não são ideias, é não saberem defender seu próprio material. Aranya aconselha que muito mais importante do que ter um grande manual técnico do seu projeto, os roteiristas e produtores devem conhecer e acreditar profundamente em suas histórias para que se tornem convincentes ao defendê-las. Como foi dito antes, as redes estão desesperadas atrás de projetos, se você for cativante em seu pitching, seu projeto está vendido. Isso é tão verdade que Aranya citou casos de projetos de séries que foram vendidas só tendo o roteiro do primeiro capítulo e uma ideia de pra que lado iria a história.

Conclusão, vamos colocar a cabeça para funcionar massacrar os teclados, quem sabe uma hora dessas Alon Aranya vai passear aí pelo Brasil ou pelo seu país em busca de novas possibilidades.



ENG • I have barely arrived at NYFA and have already ran to attend a cool event, the screening of the “Hostages” pilot, now in it's second season, followed by a session of questions and answers with the series producer, Alon Aranya. Aranya is one of the actual wonder boys of TV series with impressive 22 projects approved by several different networks like: FOX, ABC, Universal-NBC, CBS, Starz, TNT and Lifetime. His participation on “Hostages” is not limited to the production, he has played a fundamental role at the elaboration and adaptation of the screen-write, that was originally written for the Israeli TV.
The 44 minute long pilot (with no commercials), impresses by the richness of the plot and the way it keeps control between suspense and adrenaline the hole time. Because it is a TV series, the detail amount and the constant level of tension are notable, with the obvious goal of captivating the watchers minute after minute and never let him touch the remote.
After the screening, Alon has proven himself an extremely accessible person with impressive simplicity and sincerity. It was more than 60 minutes of questioning about the most different subjects. The most referred matters were the process of identification of ideas and the screen-write creation for TV series and the pitching process nowadays. In a general way what have called my attention the most in Aranya explanations was:

• They are missing screen-writers – yes it is absurd, but it is true, we are in the heart of the film industry and the market here is lacking screen-writers (good ones, I must say). Alon pointed the lack of good screen-writers in the TV series market, and that is so true that the networks are buying almost anything, even if that leads to some regrets in the future. Because of this same reason, Aranya have been looking for ideas and possibilities outside USA, as is the case of “Hostages” itself, from Israel or yet “Betrayal” and “Red Widow”, both dutch.

• The TV series screen-writes have achieved a really high level, demanding a heavy dramatic load. Aranya has told that many screen-writes that reach him as TV series projects should actually be produced as feature films because in the TV format they would barely fill 5 minutes of an episode. To produce a TV series around here is an exhaustive (and gratifying) work, because the need of keeping the plot in a fast pace demands intensive creative work and, to guarantee diversity in this process, the networks have been suggesting external screen-writers to join the projects. In other words, if the job is not going as the networks think it should, external heads are called to join in the creative process and the authors that wish to see their projects reach the end of the season usually accept that.

• The Pitchings happen at two stages. At the first one the producer goes for a good ideas hunt, whether they are screen-writes, TV series that were already produced or just synopsis. At this stage, the screen-writers are the ones to pitch the producer, defending their projects. If the producer buys the idea, he will usually join in as co-writer and help to polish it to the point it is ready to be pitched to the networks, cable TVs and studios.

• The great problem about the screen-writers is note the lack of ideas, is that they are lame pitchers. Aranya advises that much more important than have a great technical manual of your project, screen-writers must deeply know and believe their own stories to the point they become captivating when defending them. As said before, the networks are desperate for projects, if you are captivating in your pitching, your project is sold. This is so true that Aranya mentioned some cases of TV series that were sold with solely one (the first) episode written and just an idea of which way the plot would follow.


Conclusion: lets put our heads to work and massacre the keyboards, sooner or later Alon Aranya can, maybe, go for a tour in Brazil or in your country reaching for new possibilities. Who knows?

4 comments:

  1. cool perception about the actual need of good storytellers. glad to read it, I'll keep following your posts

    ReplyDelete
  2. Então, prepara um colchão de solteiro para mim aí. Tenho uma pilha de ideias, garanto que bem melhores do que as que tenho visto pela televisão por aqui, repletas não de clichês do dia a dia, que acontecem, mas de lugares comuns insuportáveis, previsíveis e situações tão irreais (num contexto de realidade) que parece inconsistência de roteiro, vide Homeland.

    ReplyDelete
    Replies
    1. Interessante você citar Homeland, Barone, pois no debate Aranya também o fez. Ele estava comentando sobre o processo de criação de Hostages e que só tinham o primeiro capítulo e tal e que rede interessada na compra a série "sugeriu" que, em determinada altura, a mocinha (vítima na verdade) beijasse o chefe dos sequestradores, assim sem mais nem menos... para gravar um take que entraria, junto com outros, numa espécie de teaser de temporada no final do episódio piloto. Teoricamente teaser seria apenas para convencer a diretoria e não deveria ser exibido publicamente, mas Aranya quase caiu de costas quando viu o material inteiro indo ao ar. No dia da apresentação nesta semana na NYFA, novamente, ele havia pedido uma cópia "limpa" pra TV, mas eles enviaram essa com o teaser. Voltando à Homeland, o que ele comentou foi que quando foi "sugerido" o beijo, que não tinha nada a ver com o enredo planejado, ele brincou dizendo que naquele momento, torcendo o nariz, pensou consigo mesmo "mas isso não é Homeland" e depois fez menção, de maneira sutil, aos problemas de roteiro de Homeland, que acabou se perdendo no meio do caminho, e todos por aqui parecem saber disso. Nessa passagem ficou bem explícita a mensagem de que, se o estúdio/a rede está "sugerindo" uma adição no roteiro, ou quem sabe um ator para algum papel específico, o mais seguro é acatar, se você deseja ver sua série ser aprovada ou ir além do quinto capítulo. Ele comentou também sobre outra situação no próprio Hostages, em que ele havia "recomendado" um ator para o papel do garoto, e o diretor também havia aprovado este mesmo ator na hora do casting, mas na hora do set apareceu o outro ator não selecionado inicialmente, por decisão das alas "superiores". No final ele disse que o garoto escolhido pela empresa foi ótimo e ele gostou bastante, mas não havia sido sua escolha originalmente. Em tempo, Homeland também tem origem estrangeira e se não estou enganado, é um remake de uma série feita em Israel.

      Delete